terça-feira, 1 de março de 2016

A VIDA É UMA OPORTUNIDADE


"A vida é uma oportunidade. Você pode usá-la, pode abusar dela, ou simplesmente desperdiçá-la. Excetuando você mesmo, ninguém será responsável. A responsabilidade é do indivíduo.

Quando você compreende isso, começa a ficar alerta, ciente. E começa a viver de uma maneira totalmente diferente. Então, na verdade, pela primeira vez você está vivo.

Do contrário, as pessoas vivem numa espécie de sonho - meio adormecidas, meio despertas - em algum lugar entre a vigília  e a semi-vigília. Essa vida não é realmente vida. Você existe, mas não vive.

A existência lhe é dada. A existência é um dom. A vida tem que ser merecida. Quando a existência se volta para si mesma, ela se torna vida. A existência foi dada pelo todo; você nada fez para merecê-la. Ela simplesmente está lá, um fato consumado. Quando a existência se torna vida...no momento em que você começa a existir de uma forma consciente, a existência se torna vida.

A existência vivida conscientemente é vida;

A vida é um grande desafio, uma aventura no desconhecido, uma aventura dentro de você mesmo, uma aventura naquilo que existe. Se você vive uma vida inconsciente, se você apenas vive, sempre terá medo da morte. A morte estará sempre por perto daquele que chega, rondando-o. Só a vida vai além da morte.

A existência vem e vai. Ela lhe é dada, depois tirada. É uma onda no oceano...levanta-se, recua, desaparece. Mas a vida é eterna. Quando você a tem, você a tem para sempre. A vida não conhece morte. A vida não tem medo da morte. Quando você sabe o que é a vida, a morte desaparece.

Se você ainda tem medo da morte, saiba disto: ainda não conheceu a vida. A morte só existe na ignorância do que é a vida. Vai-se vivendo, vai-se passando de um momento a outro, de uma ação a outra, completamente alheio ao que está realmente fazendo, por que se está fazendo e por que se vai à deriva deste para aquele ponto. Se você se tornar um pouco mais meditativo, muitas vezes no dia você perceberá que está à deriva, completamente inconsciente.

Todo o esforço da religião é fazer você ciente da sua existência; A existência somada à percepção é a vida eterna - aquilo que Jesus chama de vida em abundância, aquilo que Jesus chama de reino de Deus. Esse reino de Deus está dentro de você. Você já tem a semente dentro de você. Só precisa deixá-la germinar. Precisa deixá-la expor-se ao mundo ensolarado do céu, ficar livre, mover-se para o alto, para cada vez mais alto, tocar o próprio infinito. É possível voar alto - mas o essencial é a percepção; (...)

Uma falácia continua presente, e ela é a seguinte: como você existe, você acha que sabe quem é. Na verdade, você sente que existe, mas não sabe quem é. Só um sentimento confuso, um sentimento misto, um sentimento sombrio sobre quem você é, não é suficiente. Deveria ser um sentimento cristalino. Deveria se tornar uma luz inextinguível dentro de você. Só assim você fica sabendo o que é o homem.

Em sânscrito usamos a palavra purusha para 'homem'. Essa palavra é incrívelmente bela. É difícil traduzi-la porque ela tem três significados. Pode ser pronunciada com três diferentes ênfases.

A palavra é purusha. Pode ser pronunciada como por u sha, significando nesse caso 'o alvorecer na cidade....aquele que é cheio de luz'. Também pode ser pronunciada como puru sha, significando 'cheio de sabedoria e eterna felicidade... um cidadão do céu'. Pode ser pronunciada também como pu rusha, significando 'aquele cujas paixões são purificadas e que se tornou imortal'.

Há muitas possibilidades dentro de você, camada sobre camada. A primeira camada é a do corpo. Se você se identifica com o corpo, está se identificando com o temporal, com o momentâneo. Então, certamente haverá o medo da morte.

O corpo se encontra num fluxo, como um rio - continuamente mudando, passando. Ele nada tem do eterno. A cada momento, o corpo está mudando. Na verdade o corpo está morrendo a cada momento. Não significa que após setenta anos, subitamente um dia, você morre. O corpo morre todos os dias. A morte se estende por setenta anos, é um processo. A morte não é um evento, é um processo longo. Pouco a pouco, pouco a pouco o corpo chega a um ponto em que não pode mais segurar. Ele se desintegra.

Se você se identifica com o corpo, claro que haverá um medo constante de que a morte esteja se aproximando. Você pode viver, mas só viverá com medo. E que tipo de vida é possível quado as frustrações de seu ser estão constantemente abaladas? E quando você está sentado num vulcão e a morte é possível a qualquer momento? E só uma coisa é certa: a morte está chegando - tudo o mais é incerto.

Como você pode viver? Como pode celebrar? Como pode dançar e cantar e existir? Impossível. A morte não deixará você fazer isso. A morte é terrível e muito próxima.

Depois, há a segunda camada dentro de você: a da mente - que é ainda mais temporal e passageira que o corpo. A mente também está continuamente se desintegrando. A mente é a parte interna do corpo, e o corpo é a parte externa da mente. Eles não são duas coisas. Mente e corpo não é uma expressão correta. A expressão correta é mente-corpo. Você é psicossomático. Não é que o corpo exista e que a mente exita. O corpo é a mente bruta, e a mente é o corpo sutil...aspectos da mesma moeda.

Assim, há pessoas que se identificam com o corpo. São os indivíduos materialistas. Eles não conseguem viver. Tentam desesperadamente , claro, mas não conseguem. O materialista só finge que está vivendo; não consegue viver. Sua vida não pode ser muito profunda; só pode ser superficial, vazia - porque ele está tentando viver através do corpo, que está morrendo continuamente. Ele está vivendo numa casa em chamas. Está tentando descansar numa cama em chamas. Como se pode descansar assim? Como se pode amar? (...)

E existe outro tipo de indivíduo, que é o idealista - aquele que se identifica com a mente, com as ideias, com as ideologias, com os ideais. Ele vive num mundo muito efêmero, em nada melhor que o materialista. Claro, mais satisfatório para o ego, porque ele pode condenar o materialista. Ele fala sobre Deus, fala sobre a alma, fala sobre as religiões e sobre coisas grandiosas. Ele fala sobre o outro mundo, mas é só conversa. Ele vive na mente: continuamente pensando, ponderando, brincando com ideias e palavras. Ele cria utopias da mente, grandes e lindos sonhos - mas ele também está desperdiçando a oportunidade. Porque a oportunidade é aqui e agora, e ele sempre pensa em outro lugar.

A palavra utopia é bela. Significa 'aquilo que nunca se realiza'. Ele pensa em algo que nunca vai se realizar. Ele vive em outro lugar. Ele vive numa dicotomia, num dualismo. Com grande tensão, ele existe. Os políticos, os revolucionários...todos vivem uma vida identificada com a mente.

E a vida real fica além do corpo e da mente. Você está no corpo, você está na mente, mas você não é nenhum dos dois. O corpo é sua casca exterior; e a mente é sua casca interior, mas você é mais do que os dois.

Esse é o insight da vida real. Como começar esse insight? É disso que se trata a meditação. Comece a testemunhar. Enquanto anda na rua, seja uma testemunha. Observe o corpo andando... e de seu mais profundo íntimo, comece a olhar, testemunhar, observar. De repente, você terá uma sensação de liberdade. De repente, você verá que o corpo está andando, não é você que está andando.

Ás vezes o corpo está saudável, às vezes está doente. Observe, apenas observe, e de repente você terá a sensação de uma qualidade totalmente diferente de ser. Você não é o corpo. O corpo está doente, claro, mas você não está. O corpo está saudável, mas nada tem a ver com você.

Você é uma testemunha, um observador nas colinas ... bem distante. Claro, atrelado ao corpo, mas não identificado com o corpo; enraizado no corpo, mas sempre além dele e transcendendo-o.

A primeira meditação consiste em separar-se do corpo. E aos poucos, quando sua observação do corpo se torna mais aguçada, comece a observar os pensamentos que continuamente lhe passam pela mente; Mas primeiro observe o corpo; como ele é obviamente visível, pode ser observado mais facilmente, não será necessária muita percepção. Quando você se tornar afinado, então comece a observar a mente.

Tudo o que puder ser observado passa a ser separado de você. Tudo o que você puder testemunhar, não é você. Você é a percepção testemunhadora. O que foi testemunhado é o objeto; você é a subjetividade."


Osho em O Homem que amava as gaivotas

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